Psicólogo pode acompanhar cerimônias com enteógenos?

Um tema delicado e necessário

Com o aumento do interesse por experiências com medicinas da floresta, é comum surgir a pergunta: o psicólogo pode estar presente em uma cerimônia com enteógenos? A resposta exige cuidado, conhecimento técnico e, acima de tudo, um olhar ético e respeitoso com todas as partes envolvidas.

A atuação clínica e os limites legais

No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia ainda não regulamentou diretamente a atuação do psicólogo em contextos enteógenos. No entanto, o Código de Ética orienta que qualquer prática deve prezar pela autonomia, segurança e bem-estar do paciente. Isso significa que o psicólogo não pode conduzir ou oferecer substâncias, mas pode, sim, estar presente como suporte — desde que esse papel esteja claro, ético e previamente acordado.

A presença como apoio, não como liderança

Quando um psicólogo participa de uma cerimônia (a convite do grupo e com consentimento), sua função não é dirigir o ritual, nem interpretar visões. É sustentar um campo de segurança emocional, caso a pessoa precise de suporte durante o processo. Essa presença é discreta, sensível e integrada ao contexto espiritual e comunitário da cerimônia.

O valor da escuta durante a experiência

Estados ampliados de consciência podem trazer emoções intensas, regressões ou abertura de conteúdos psíquicos profundos. Um psicólogo com formação adequada e experiência nesse campo pode oferecer um ponto de ancoragem, sem interferir na condução ritualística. Essa escuta pode evitar rompimentos, reativações traumáticas ou crises desnecessárias.

Construindo pontes entre ciência e tradição

A presença do psicólogo em contextos rituais não deve ser uma invasão, mas uma construção de pontes. É fundamental o respeito à tradição, aos saberes indígenas ou xamânicos e à cosmovisão do grupo que conduz o ritual. Quando há confiança, diálogo e clareza de papéis, o psicólogo pode ser um aliado importante no campo da expansão e da integração.